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07/01/2019 16:00

Álcool está associado ao machismo e à 'cultura do estupro'

Poderio da indústria e produção cultural reforçam aspectos problemáticos

A pressão para o consumo de álcool neste período do ano é similar à imposição para o corpo perfeito. Se você não se encaixa nos padrões (beber regularmente e/ou ter um corpo “de verão”), você será julgado por isso. “Para os homens, esse tópico é quase inflexível, pois o álcool é utilizado, em nossa sociedade, como uma ferramenta de afirmação de masculinidade (seja para ser aceito em grupos ou para impressionar alguém), então no imaginário social ‘beber faz de você homem’”, diz o terapeuta Marcus Boaventura, 26 anos.

Ele, que bebe desde a adolescência, lembra que bebia para ser mais extrovertido com mulheres. “Comecei a me perguntar o porquê de estar fazendo aquilo, já que eu não queria nem beber nem paquerar ninguém. Notei que esse hábito estava tão enraizado a ponto de ser automático. Hoje diminui o consumo de bebida e aceitei que é possível socializar e, se for o caso, paquerar sem ele”, avalia.

Marcus resume uma associação quase que direta entre álcool e machismo, que incide sobre os homens (especialmente os mais jovens), mas também sobre as mulheres, maiores vítimas da chamada “cultura do estupro”.

“Hoje muita música e muito conteúdo cultural que explora essa correlação entre a bebida alcoólica e a sexualidade, essa coisa das novinhas que bebem e descem. Sendo que uma década atrás, a gente tinha muito mais casos de alcoolismo entre homens que entre mulheres”, destaca Miriam Gorender, psiquiatra e professora da FTC.

Considerado um problema predominantemente masculino, o alcoolismo tem atingido com força as mulheres. Aquelas que nasceram entre 1991 e 2000 bebem tanto quanto os homens da mesma geração - às vezes até mais. Ao mesmo tempo, elas estão sofrendo cada vez mais com os efeitos nocivos do álcool, desde doenças relacionadas às ocorrências de estupro.

“Não é incomum a gente ter o estupro de mulheres que estão inconscientes pela bebida. Às vezes, a própria mulher não percebe isso como um crime, mas ela não estava em condições de dizer se permitia aquilo ou não“, alerta Gorender.

Para ela, a manutenção dessa opinião pública está diretamente relacionado ao poderio das cervejarias e da indústria de bebida alcoólica de modo geral, que inclusive patrocina uma série de festas, especialmente no Verão. "As entidades médicas vêm há décadas tentando restringir a propaganda de bebidas alcoólicas, o problema é que este é um dos lobbys mais poderosos do país. O que a gente vê é que todos os projetos que são lançados, que têm a ver com a restrição dessa publicidade, de por exemplo não associar à sexualidade e coisas desse tipo, todos esses projetos acabam engavetados", ressalta.

Fonte: Correio da Bahia
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