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29/04/2019 11:10

Artista cearense faz cordel da Lei Maria da Penha

*Ouça o cordel no link: https://soundcloud.com/spmbahia

Uma das formas mais brasileiras de se contar uma história é por meio do cordel, um gênero literário popular originado em relatos orais, normalmente ilustrados com xilogravuras, com texto ritmado e impresso em folhetos.

Mas o uso do Cordel, que é muito presente na cultura do nordeste do Brasil, pode ser usado além do entretenimento. É o caso do cearense Tião Simpatia, que criou A Lei Maria da Penha em Cordel, um projeto que conquistou as escolas brasileiras e busca a conscientização da violência contra a mulher. 

Tião conta que a ideia surgiu antes mesmo da instauração da lei, em 2006, em uma conversa entre ele e a própria Maria da Penha, mulher cujo a história inspirou a lei: “Tive a oportunidade de conhecer a Maria da Penha assim que a lei foi criada, e ela me pediu para fazer um cordel sobre a recém criada Lei Marinha da Penha. O objetivo era pegar os principais artigos da lei e transformar em cordel. A lei é muito ampla, são 46 artigos. Então procuramos compilar em 33 estrofes de cordel.”

O cordel ficou tão famoso que já foi traduzido para o inglês, espanhol e até mesmo para o braille. E por causa dele, Tião já viajou para vários países para compartilhar o conteúdo. 

O cordel já até causou mudanças nas leis de segurança às mulheres em países da África: “Por conta dessa versão em espanhol, eu fui convidado, por exemplo para participar de um evento na cidade do Panamá, em 2011. E daí surgiram outros eventos, fomos para a África quatro vezes por conta dessas traduções que foram feitas. Fizemos intercâmbios para São Tomé e Príncipe e Cabo Verde, que tem leis de proteção à mulher inspiradas na lei brasileira. Isso tem nos possibilitado a ter um intercâmbio muito amplo e uma experiência de trabalho e de vida muito rica.”

A forma de trazer a Lei Maria da Penha como um tema de literatura de cordel foi fundamental para a disseminação da história.

Para Tião, o cordel foi o melhor jeito de explicar a lei de maneira simples e eficiente. Para ele, o cordel é tão importante que foi por meio deste tipo de literatura que ele aprendeu a ler: “Na minha região, onde eu morava há 20 anos, não tinha escola. Eu morava na zona rural, no sítio. O único meio de leitura que chegava na minha comunidade era a literatura de cordel. Posso dizer que fui alfabetizado através dele, e assim como eu, muitos outros artistas também tem uma história parecida. Além do cordel ter dado essa contribuição na nossa própria formação, ele também está na identidade cultural do Brasil. ”

Após a divulgação do material e devido à grande repercussão que ele gerou, algumas críticas surgiram sobre a produção do cordel. Ele comenta também que a experiência de produzir uma pauta tão feminista pela visão de um homem foi um desafio necessário e interessante: “Um dia desses, conversando com Maria da Penha, ela disse: 'Tião, você talvez nunca tenha se perguntado porque que eu chamei você para essa causa. Sobretudo é porque eu queria dar um recado para sociedade, principalmente os homens, que essa luta deve ser de ambos os gêneros. Os homens são os agressores, então na medida que temos um homem falando disso, evidentemente haverá uma comunicação melhor, uma sensibilidade, uma adesão maior por parte desses homens'. Ela completou 'não se trabalha igualdade de gênero só com mulheres. Igualdade de gênero tem que se trabalhar com homens e mulheres'.”

São milhares de crianças, adolescentes e até mesmo adultos com um acesso simbólico e representativo sobre a violência contra a mulher.

E para Tião, a importância do projeto é inegável: “Mais uma contribuição que essa literatura vem dando na divulgação dessa lei, na conscientização das mulheres sobre seus direitos, dos homens que não devem agredir as mulheres. O cordel é isso, é vida, é coisa que pulsa nas nossas veias na nossa vida. Por isso que é tão especial”.

O projeto se tornou uma parceria do Instituto Maria da Penha e Secretaria de Educação do Ceará, e hoje atinge mais de 30 escolas do Estado. 

Fonte: Brasil de Fato

 

 

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