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05/06/2019 14:40

Como abordar a história das mulheres durante todo o ano?

As mulheres também foram escribas, administradoras, guerreiras e cientistas. Saiba como levá-las para a sala de aula o ano todo

Há mil anos, uma mulher de meia-idade, provavelmente uma freira, foi enterrada em um mosteiro em Dalheim, na Alemanha. Séculos depois, uma análise da arcada dentária da religiosa, publicada na revista científica Science Advances em 2019, lançou novas luzes sobre o papel da mulher na Idade Média ao encontrar lápis-lazúli, mineral raro e tão valioso quanto o ouro usado para produzir pigmento azul, entre os seus dentes. A descoberta foi uma surpresa. Como uma mulher anônima poderia entrar em contato com tal produto? Para os pesquisadores, trata-se de evidência de que seria uma artista envolvida na criação das iluminuras que adornavam manuscritos medievais. Até então, a atividade estava associada a uma elite profissional religiosa do sexo masculino.

A freira de Dalheim não está sozinha: há muitos exemplos de invisibilidade e estereótipos de mulheres na História, em especial aquela aprendida na escola. Não é diferente nas outras disciplinas: de quantas cientistas, matemáticas ou filósofas conseguimos nos lembrar? Ao adicionarmos a raça e a classe às análises, o quadro fica ainda mais desigual. Faça um teste: quantos feitos ou nomes de mulheres negras ou indígenas você teve a oportunidade de aprender?

Há uma grande chance de que as contribuições das mulheres tenham sido invisibilizadas ao longo do seu percurso escolar. É possível também que o assunto só seja lembrado na escola em datas específicas, como 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Para Oldimar Cardoso, assessor do Time de Autores de Nova Escola e formador de professores, a ausência feminina na História está relacionada a uma carência teórica mais ampla, que também exclui outros grupos, como as pessoas negras e as indígenas. Além disso, em geral a História é ensinada como uma série de realizações político-institucionais: isso é o que aparece nos materiais didáticos e é cobrado nos vestibulares. “Nesse contexto, é difícil para o professor fazer algo diferente”, explica.

Para mudar a prática, uma recomendação é distribuir os conteúdos sobre mulheres ao longo do ano e evitar concentrá-los exclusivamente em datas especiais, como março. Outra saída é usar chaves do movimento feminista contemporâneo para questionar a História. Uma atividade prática seria pedir à turma para pesquisar sobre mulheres cientistas cujas invenções foram roubadas ou sua contribuição minimizada, por exemplo.

Em Ceilândia, no Distrito Federal, as histórias de mulheres tão diferentes quanto Malala, Anne Frank e Maria Carolina de Jesus fizeram parte do projeto Mulheres Inspiradoras, criado em 2014 pela educadora Gina Ponte. O projeto envolveu Língua Portuguesa, História e Geografia. A partir de uma reflexão inicial sobre as representações da mulher na mídia, as turmas estudaram a biografia de dez mulheres e seis livros de autoria feminina. Em grupos, os estudantes do 9º ano realizaram uma exposição oral e produziram um cartaz informativo sobre a mulher escolhida. Além disso, produziram um texto autoral sobre a história de vida de uma mulher do seu círculo social que considerassem a mais inspiradora de todas. “A maioria entrevistou a mãe ou a avó”, conta Gina, ressaltando que não queria que a ideia de “mulher inspiradora” fosse restrita às grandes personalidades. “Mas que entendessem que a mulher inspiradora é também aquela que acorda cedo para trabalhar ou cria os filhos sozinha”, analisa. Hoje, o projeto, ainda em caráter experimental, faz parte da formação de professores de outras escolas. “A despeito do que dizem, a juventude está aberta e sente necessidade de falar sobre isso”, afirma Gina.

Fonte: Nova Escola

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