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26/07/2019 16:30

Preta Rara debate sobre racismo e empoderamento feminino com estudantes da rede pública

Em homenagem ao Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, comemorado em 25 de Julho, o projeto Fala Menina convidou para um bate-papo especial  a rapper, poetisa e historiadora Preta Rara. O encontro aconteceu na manhã desta sexta-feira (26), no Colégio Estadual Thales de Azevedo, em Salvador, e contou com a participação cultural do Coletivo Crespo do Colégio Estadual Rômulo Almeida.

O Fala Menina é realizado pela Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres da Bahia (SPM-BA) em parceria com a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) e este ano teve apoio da Secretaria da Educação (SEC). O projeto acontece sempre em julho, mês dedicado às mulheres negras da América Latina e do Caribe.

Durante a abertura da conversa, a titular da SPM-BA, Julieta Palmeira, declarou que o evento tem o objetivo de chamar a atenção para a necessidade de que os jovens estejam na batalha para fortalecer a equidade entre os gêneros e acabar com a violência contra as mulheres.  “É essa equidade que faz com que combatamos a masculinidade tóxica,  aquilo que confunde masculinidade com violência,  com maus tratos contra as mulheres. Além de maltratar as mulheres, essa cultura acaba com os homens também porque eles se tornam agressores.”

A secretária da Sepromi, Fabya Reis, declarou que o Julho das Pretas é o momento para discutir com a sociedade o combate ao machismo e racismo, além de abordar as personagens da história baiana. “Esse diálogo com a educação é essencial para que possamos resgatar as heroínas negras e suas histórias.” Secretário da SEC, Jerônimo Rodrigues disse estar emocionado em participar de um encontro como esse, pois a juventude está fazendo história, em especial a juventude negra.

Convidada dessa edição do Fala Menina, Preta Rara disse da felicidade em participar pela primeira vez de um encontro em uma escola pública na Bahia. “Que momento incrível. Eu pude me ver em cada pessoa aqui e isso é importante. Cada menina, cada mulher assumindo sua cultura, seu cabelo e suas escolhas.”

Nascida em Santos, litoral de São Paulo, Preta Rara falou da infância em um bairro muito violento. “Nós éramos proibidos de sair de casa por causa da violência. O papel e a caneta sempre foram os meus melhores amigos e, na adolescência, eu relatava nos meus cadernos toda a gordofobia e o racismo que eu sofria. Meu pai viu minhas anotações e falou que aquilo era uma rap.  Foi aí que eu comecei nesse processo. É importante termos investimentos em políticas públicas ligadas à cultura, pois o hip hop me salvou”, desabafou.

Eu, empregada doméstica

No Brasil, 78.8% das trabalhadoras domésticas são mulheres negras. “Isso não é normal, não podemos aceitar essa situação. Somos um país que não acordou para o fim da escravidão e muitas trabalhadoras estão em situação análoga à escravidão. Enquanto estamos aqui hoje, muitas mulheres estão em casas de família trabalhando sem direitos.  Minha vó e minha mãe foram empregadas domésticas, eu fui também porque para a mulher preta só restava isso. Graças às políticas públicas eu consegui sair, pude estudar e virei professora de história.”

De acordo com Preta Rara, seu último trabalho como empregada doméstica foi em 2009, mas foi em 2016 que um desabafo seu viralizou na internet. “Foi aqui que surgiu a pagina no facebook ‘Eu, empregada doméstica’, com relatos dessa época. Em duas horas, a BBBC de Londres me ligou para dar entrevista. Eu falei com a imprensa de vários países e só depois a mídia brasileira entrou em contato”, conta.  

A rapper e poetisa falou às meninas e meninos presentes sobre a importância em estudar, respeitar suas origens e buscar o distanciamento de todos os tipos de violência e preconceito. “Vocês são tão capazes quanto eu. Busquem, corram atrás dos estudos. As negras e os negros podem e devem ocupar todos os espaços da sociedade”. Segundo Preta Rara, depois dela nenhuma outra mulher da família foi trabalhadora doméstica. “É um emprego como qualquer outro, mas nós podemos mudar a história. E foi essa minha história que se transformou em livro”, concluiu.

Durante o encontro houve apresentação de poesia e musical com alunos da escola e do Coletivo Crespo.  Estiveram presentes, Maurício Pestana, diretor da Revista Raça, e o chefe de gabinete da Setre, Everaldo Augusto.

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